Para analisar o contexto educacional e curricular faz-se necessário compreendermos a
evolução do pensamento pedagógico brasileiro e a influência deste na ação
docente. Para tanto, é imprescindível recorrermos à história e a
origem do currículo e suas questões atuais.
Sendo assim para Silva (1996, p. 23):
"O currículo é um dos locais privilegiados onde se entre cruzam saber e poder, representação e domínio, discurso e regulação. É também no currículo que se condensam relações de poder que são cruciais para o processo de formação de subjetividades sociais. Em suma, currículo, poder e identidades sociais estão mutuamente implicados. O currículo corporifica relações sociais."
O currículo é um campo permeado de
ideologia, cultura e relações de poder.
Por ideologia segundo Moreira e Silva (1997, p. 23) pode-se afirmar que esta “é
a veiculação de idéias que transmitem uma visão do mundo social vinculada
aos interesses dos grupos situados em uma posição de vantagem na
organização social”. Ou seja, é um dos
modos pelo qual a linguagem produz o mundo social, e, por isso o aspecto
ideológico deve ser considerado nas discussões sobre currículo.
O ensaio de Althusser (1983), a
ideologia e os aparelhos ideológicos do Estado, marcam um momento de forte
percepção da questão da ideologia em educação.
Embora, objeto de crítica, seus
pressupostos foram importantes pelo pioneirismo.Currículo também é inseparável
da cultura. Tanto a teoria educacional tradicional quanto a teoria
crítica vêem no currículo uma forma institucionalizada de transmitir a
cultura de uma sociedade. Sem esquecer que, neste caso, há um
envolvimento político, pois o currículo, como a educação, está ligado à
política cultural. Todavia, são campos de produção ativa de cultura e, por
isso mesmo, passíveis de contestação. Esse encontro entre ideologia e
cultura se dá em meio a relações de poder na sociedade (inclusive,
naturalmente, na educação). Por isso, o currículo se torna um terreno
propício para a transformação ou manutenção das relações de poder e, portanto,
nas mudanças
sociais.
Conforme Moreira e Silva (1997, p. 28),
“o currículo é um terreno de produção e de política cultural, no qual os
materiais existentes funcionam como matériaprima de criação e recriação e,
sobretudo, de contestação e transgressão”. O currículo escolar tem ação
direta ou indireta na formação e desenvolvimento do aluno. Assim, é fácil perceber
que a ideologia, cultura e poder nele configurados são determinantes no
resultado educacional que se produzirá. Devemos, ainda, considerar
que o currículo se refere a uma realidade histórica, cultural e
socialmente determinada, e se reflete em procedimentos didáticos,administrativos
que condicionam sua prática e teorização.
Enfim, a elaboração de um currículo
é um processo social, no qual convivem lado a lado os fatores lógicos, epistemológicos,
intelectuais e determinantes sociais como poder, interesses, conflitos simbólicos
e culturais, propósitos de dominação dirigidos por fatores ligados à classe,
raça, etnia e gênero.
Sendo uma prática tão complexa, há
enfoques diversos e distintos graus de aprofundamento. No entanto, todas
as concepções revelam posicionamentos de valor. É natural que seja assim,
pois, como todo trabalho pedagógico se fundamenta em pressupostos de
natureza filosófica, a escola e o professor tornam evidentes suas visões
de mundo, assumindo posturas mais tradicionais ou mais libertadoras no
desenvolvimento do currículo.
É viável destacar que o currículo
constitui o elemento central do projeto pedagógico, ele viabiliza o
processo de ensino aprendizagem. Contribuindo com esta análise Sacristán
(1999, p. 61) afirma que O currículo é a ligação entre a cultura e a
sociedade exterior à escola e à educação; entre o conhecimento e cultura
herdados e a aprendizagem dos alunos; entre a teoria (idéias, suposições
e aspirações) e a prática possível, dadas determinadas condições. Alguns
estudos realizados sobre currículo a partir das décadas 1960 a 1970
destacam a existência de vários níveis de Currículo: formal, real e oculto.
Esses níveis
servem para fazer a distinção de quanto o aluno aprendeu ou deixou de
aprender.
O
Currículo Formal refere-se ao currículo estabelecido pelos sistemas de ensino,
é expresso em diretrizes curriculares, objetivos e conteúdos das áreas ou
disciplina de estudo. Este é o que traz prescrita institucionalmente os
conjuntos de diretrizes como os Parâmetros
Curriculares Nacionais.
O
Currículo Real é o currículo que acontece dentro da sala de aula com professores
e alunos a cada dia em decorrência de um projeto pedagógico e dos planos de
ensino.
O
Currículo Oculto é o termo usado para denominar as influências que afetam
a aprendizagem dos alunos e o trabalho dos professores. O currículo
oculto representa tudo o que os alunos aprendem diariamente em meio às
várias práticas, atitudes,comportamentos, gestos, percepções, que vigoram no
meio social e escolar. O currículo está
oculto por que ele não aparece no planejamento do professor (MOREIRA; SILVA,1997).
Assim,
o currículo não é um elemento neutro de transmissão do conhecimento
social. Ele está imbricado em relações de poder e é expressão do equilíbrio de
interesses e forças que atuam no sistema educativo em um dado momento, tendo em
seu conteúdo e formas, a opção historicamente configurada de um
determinado meio cultural,
social,
político e econômico. Para compreendermos melhor o currículo no processo
educacional, faz-se necessário contextualizá-lo, tendo como parâmetro o
pensamento pedagógico brasileiro.
Fonte: (http://www.pucpr.br/)




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